14.9.08

Era.


A primeira coisa que fiz ao voltar, foi visitar aquela colina ao sul da cidade, perto do rio, onde havia os pomares e a velha ponte de pedra. A grama verde que roçava nossos pés enquanto corríamos prestes a rolar ladeira abaixo, e o vento que fustigava seus cabelos morenos, exalando um aroma que se misturava ao de morangos e despertava um amor tão grande dentro de mim, ainda eram os mesmos.

Naquele dia você usava um vestido branco, que revelava suas costas macias e seus joelhos ainda roliços de menina, levava na orelha uma flor amarela, que eu mesmo subi na árvore ao lado do moinho para colher, enquanto você sorria aflita e olhava pra cima com os olhos brilhantes, semi-cerrados pelo sol, que me davam tanto medo e alegria.

Corremos até as macieiras e você pegou duas, mordendo uma com delicadeza e me entregando a outra com um olhar de ternura que nunca mais esqueci, com um sorriso tímido que iluminava sua face sob o sol já alto e me encorajava a avançar. Quando me dei conta já estava sentindo seus lábios, rosados como uma romã, contra os meus que tremiam de excitação ante seu corpo quente, que eu apertava contra o meu e envolvia em um abraço infinito.

Nos encontramos mais três vezes no mesmo lugar, então você partiu. Não me disse por que, nem pra onde, simplesmente não apareceu mais. Quando fui a sua casa a encontrei vazia, aberta, com apenas um ou outro móvel pesado e velho demais para se carregar, uma boneca esfarrapada, quase sem cabelos, e uma flor amarela no chão. E isso foi tudo.

Todas as noites me pergunto o que aconteceu, por que você partiu? Por que ao menos não me avisou? E fico me revirando na cama tentando tirar da memória aqueles cabelos mais negros que a escuridão do quarto, o sorriso embaraçado que fazia eu me sentir tão contente, e o jeito engraçado de pisar na grama fofa enquanto fugia de mim em direção ao pomar, rindo como uma criança que avista um brinquedo. Mas não nesse dia, nesse dia senti o cheiro dos morangos e o vento no rosto mais uma vez, e era tão bom. Era tão bom.