3.10.08

Um dia quente de verão.


Foi na casa em Dachau, no verão passado. Eu estava na varanda, rodeado pelas cinzas dos cigarros, tentando me manter acordado na vã esperança de uma boa noite de sono. Ela corria pelo jardim brincando com o cachorro de titia, um mastim, de cara amassada e pêlo tão negro quanto seus cabelos, a ponto de se fundirem quando rolavam pelo chão. Vez ou outra vinha até a varanda e olhava inquisidoramente para mim, enquanto afagava a cabeça do animal e me perguntava o que eu tinha escrito até então, antes de voltar a correr com seu sorriso infantil.

Era um dos dias mais quentes do ano. Mesmo na sombra o suor escorria pelo meu rosto cansado, enquanto ela, apenas alguns anos mais nova que eu, parecia não se importar enquanto pulava e abraçava uma bola peluda debaixo do sol escaldante, que refletia em seu vestido azul-claro e vinha diretamente em meus olhos.

- Venha também, Nikolay, o dia está muito bonito para ficar aí escrevendo!

Eu me limitava a ameaçar um sorriso e apertava os olhos, balançando a cabeça de um lado para o outro. Ela ria com um guincho alto e instigava o cachorro para cima de mim, que vinha correndo e parava aos meus pés olhando para cima, balançando o rabo, antes de voltar para os braços dela ignorando a minha impassividade.

Ficamos assim durante toda a tarde, até ela vir se sentar, exausta, ao meu lado. O cachorro veio logo atrás e deitou-se sobre seus pés.

- Acho que ele cansou também, não é garoto? - ela disse, fazendo festa em sua cabeça, enquanto ele se virava e contorcia as pernas pedindo que afagassem sua barriga.

Fiquei assistindo a cena por alguns instantes antes de pegar a caneta e escrever uma única frase no topo de meu caderno, não podendo conter um sorriso.

- O que foi? - perguntou ela ao perceber minha expressão, inclinando a cabeça e me olhando curiosamente.

O que eu podia dizer? Balancei a cabeça vagarosamente e sublinhei a frase duas vezes, antes de fechar o caderno. Logo eu, que prometi nunca mais me apaixonar?